PESQUISA REVELA O RISCO DE SUICÍDIO NA COMUNIDADE LGBT

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por Wilzacler Rosa*

Falar em suicídio ainda é um tabu em nossa sociedade. Há muito tempo ele tem sido considerado uma questão de saúde pública. A cada 40 segundos uma pessoa tira sua própria vida no mundo. O Brasil está entre os 10 países com maior índice, tendo a faixa etária entre 15 e 35 anos como a 3ª maior causa de morte e na faixa etária entre 15 e 44 anos é a 6ª maior causa de incapacitação. Quando nos referimos as tentativas de suicídio os índices podem chegar a 10 vezes mais os dados de óbitos. Pessoas próximas como familiares e amigos são os que mais sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas.

Já é comprovado que geralmente as pessoas que chegam ao suicídio antes demonstraram algum sinal. Quando nos referimos ao comportamento suicida, ele envolve diversas etapas como a ideação, o pensamento, o gesto, a ameaça e a tentativa, sem falar também que temos o comportamento suicida indireto, na qual o indivíduo tem atitudes autodestrutivas indiretamente.

Alguns estudos mostram que o público considerado LGBT tem um risco maior de cometer o suicídio, como a pesquisa realizada na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, com 32.000 jovens anônimos, entre 13 e 17 anos, estudantes de uma escola pública. Concluíram que adolescentes gays são 5X mais propensos a tentar suicídio do que os heterossexuais e os adolescentes que vivem e estudam em locais que aceitam melhor gays e lésbicas têm 25% menos probabilidade. Um outro estudo realizado foi por Fabrizio Marrazzo, da entidade arco-íris Gay Center, com 4.000 adolescentes LGBT italianos e revelou que mais de mil deles (por volta de um terço) já pensou em suicídio.

No Brasil temos o estudo de Daniela Ghorayeb, que mostrou que 67% dos entrevistados afirmaram sentir vergonha de sua orientação sexual, sendo 35% com Depressão e 10% com risco de suicídio. Segundo os entrevistados a religião e as pressões da sociedade foram os fatores que mais induziriam a esse tipo de sentimento e as mulheres e adolescentes entre 16 e 21 anos afirmaram que o medo de frustrar a família era o que mais pesava.

Na cidade de Maceió, desde janeiro até outubro de 2013 o Hospital Geral do Estado (HGE) registrou aproximadamente 400 casos de tentativas de suicídio e no Instituto Médico Legal (IML) desde janeiro deste ano já foram registrados 61 casos de suicídio.

Com base nesses dados, a psicóloga e presidente do Centro de Amor a Vida (CAVIDA) Wilzacler Rosa coordenou uma pesquisa juntamente com alguns alunos do Curso de Serviço Social da UFAL, na cidade de Maceió-AL , com o objetivo de investigar o risco de suicídio entre pessoas consideradas da comunidade LGBT. Foram entrevistados 1600 participantes, entre agosto e novembro de 2013, sendo 59% do sexo masculino e 41% do sexo feminino, com faixa etária entre 12 e 60 anos, considerados 72% Homossexuais e 28% Bissexuais.

A pesquisa revelou que 58% dos entrevistados conhecem alguém que já tentou tirar a vida, 49% tem alguém na família que já verbalizou não querer mais viver, 53% Já pensou em não viver mais, 49% já verbalizou não querer mais viver, 78% afirmaram ter a sensação de querer “sumir”, 49% já desejou não viver mais, 15% afirmou ter coragem de tirar a própria vida e 10% acha que hoje em dia não teria coragem de tirar a vida mais já teve ou já tentou. Quanto a escolaridade dos entrevistados 2% tem o nível fundamental incompleto, 3% o nível fundamental completo, 13% o nível médio incompleto, 31% o nível médio completo, 37% o nível superior incompleto e 12% o nível superior completo.

Quanto aos entrevistados que afirmaram ter coragem de tirar a vida, 63% é do sexo masculino e 37% do sexo feminino, com média de 22 anos de idade, sendo 74% considerados homossexuais e 26% bissexuais. Quanto a escolaridade destes, 2% afirmaram ter o nível fundamental completo, 16% o nível médio incompleto, 40% o nível médio completo, 30% o nível superior incompleto e 10% o nível superior completo. Destes, 67% conhecem alguém que já tentou tirar a vida, 80% já pensou em não viver mais, 69% já verbalizou não querer mais viver, 85% já teve a sensação de querer “sumir” e 76% já desejou não viver mais.

Segundo os entrevistados o que poderia levar alguém ao suicídio em primeiro lugar seria a falta de apoio espiritual, seguido pelos sentimentos gerados por indiferença e o preconceito. As dificuldades no relacionamento pessoal ou familiar, a depressão, a falta de amor próprio, a perda do sentido de viver, a dificuldade financeira, o desequilíbrio mental e a dificuldade para resolução de problemas também foram apontados como fatores motivacionais do suicídio.

Na preocupação com esta realidade, o Centro de Amor a vida iniciará um trabalho de divulgação do seu trabalho, já que a maioria dos entrevistados (83%) não conhecem o CAVIDA. O Centro de Amor a Vida (CAVIDA) é uma associação sem fins lucrativos, que recebeu o título de Utilidade Pública no dia 15 de outubro de 2013, tenta se manter através de doações e que tem o objetivo de prevenir o suicídio. Foi inaugurado no dia 02 de abril de 2012 e atualmente conta com uma equipe de 20 voluntários que ajudam no oferecimento de atendimentos psicossociais, oficinas terapêuticas, grupos de apoio, palestras e cursos, funcionando na Rua Castro Alves, nº 171A, no bairro do Poço, no horário de segunda a sexta de 8h as 12h e de 14h as 18h.

A instituição acredita que com intensificação na divulgação do seu trabalho, poderá ajudar as pessoas que passam por algum tipo de problema que possa ser um fator de risco para o suicídio. “Os dados apresentados são um ALERTA para o risco de suicídio em uma parte significativa da nossa população, por isso pedimos o apoio dos órgãos públicos e da sociedade com um todo para nos ajudar a salvar vidas”, diz Wilzacler.

*Wilzacler Rosa é psicóloga, especialista em Saúde Mental e Neuropsicologia, mestranda em Psicologia, neuropsicóloga clínica, docente da UFAL e da Escola de Enfermagem Santa Juliana, idealizadora e Presidente do Centro de Amor a Vida (CAVIDA), projeto voluntário de Prevenção ao Suicídio.

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