por Cristiano Martins (CRP-15/2196)*
O trabalho é amplo e diversificadíssimo no âmbito hospitalar, especificamente em si tratando de um hospital geral como o nosso que é imenso e que acolhe tanto as urgências e emergências quanto às doenças das mais diversas etiologias possíveis, oriunda de todo o estado. Constituímos intervenções especializadas e qualificadas em várias frentes, neste organismo de vida chamado HGE. Desde a porta de entrada desta unidade quanto em áreas específicas como: área vermelha (clínica e trauma) UTI’s geral e pediátrica, área amarela, CC, CTQ, UDT, unidade de AVC, área azul, ortopedia, etc. E, no meu caso pontualmente, área verde – enfermarias, onde sou referência no momento.
O atendimento acontece por meio de solicitações e encaminhamentos da equipe de saúde (que é excelente), do paciente, da família/cuidador e busca ativa (espontânea). Vale ressaltar o privilégio de contarmos com profissionais qualificados competentes, especialistas e comprometidos com a função a desempenhar nesse terreno arenoso que é a transitoriedade do adoecer e suas demandas inadiáveis. No entanto, especificamente falando sobre a intervenção nas enfermarias, onde atuo, nos deparamos com as mais variadas e complexas situações emocionais. Ofertando desde a necessidade de atendimento pontual, acompanhamento sistemático, escuta seletiva, esclarecimentos, orientações especificas, acolhimento ao processo de hospitalização/internamento com toda sua dinâmica do adoecimento. Observando quais são os fatores que estão relacionados com esse adoecer e manutenção do adoecido. Tendo em mente a tríade da atuação do psicólogo hospitalar que é o paciente, o familiar/cuidador e a equipe de saúde. Para assim, buscarmos sempre ofertar o melhor desempenho das nossas atribuições.
Diminuir a resistência- de poucos, que ainda insiste em perpassar em nosso cotidiano, e desmistificar a visão do psicólogo clínico na seara hospitalar e conhecer as características e especificidades do profissional da psicologia e suas contribuições. É nesse ínterim que pontuo a importância e colaboração importante da interconsulta, intervenção essencial junto à equipe multidisciplinar para a aquisição de saberes e o entendimento contextualizado e a melhor resolutividade para o quadro apresentado. Outro ponto sine qua non é avaliar o aspecto psicológico que cerca o paciente a priori, a família/cuidador e equipe de saúde. Observando quando possível quanto este processo fenomenológico do adoecimento, tratamento e hospitalização afeta àquele que vivencia toda a experiência atual. Resumindo: qual o impacto em sua vida que a estada hospitalar e consequentemente para seus familiares e equipe de saúde. Pois todos de uma maneira ou de outra vivencia essa angústia quer seja aflorada ou negada. Vale explicitar um pouco o significado do adoecer para muitos: representa episódio de fragilidade, estar vulnerável e remete ao risco de morte/finitude – seja real ou fantasiada. Instalando e evocando emoções e comportamentos múltiplos como: medo, raiva, frustrações, inseguranças, culpas, revolta, tristezas, estresses etc. Exigindo do profissional Psicólogo intervenções apropriadas e específicas que podemos citar: aconselhar, remover barreiras, oferecer opções de escolha (quando possível) praticar empatias, dar feedback, clarificar objetivos e acolher a todos e principalmente aquele que sofre em um setting tão diferenciado e instável.
A nossa função se propõe em ser um instrumento de suporte para o sujeito em adoecimento, a fim de que este possa atravessar esta fase delicada com maior resiliência e tranquilidade possível. Buscando assim, minimizar todo o sofrimento causado pelo adoecimento e processo de hospitalização. Nesse sentido, é um trabalho que lida diretamente com a subjetividade do outro e que necessita largamente de um compromisso ético com a condição humana. Pois a hospitalização é um desafio à capacidade de adaptação do ser humano.
Estamos aqui neste plano para servir a todos de forma indistinta e descente. Viver o Hospital Geral do Estado/AL e suas vicissitudes é uma oportunidade de vida especial e única para evoluirmos como pessoa, profissional e humanidade.
“Nas minhas incompetências eu aprendo, nas minhas competências eu sirvo.”
*Cristiano Martins (CRP-15/2196) é psicólogo do Hospital Geral do Estado de Alagoas (HGE / AL).